terça-feira, 20 de julho de 2010

A rolha, a caneca e o remo, por Luiz Fernando Oderich.

Em matéria de segurança pública, o Brasil navega numa canoa furada, longe da praia, remando desesperadamente. A tripulação discute como remar melhor e mais rápido. Em nosso barco imaginário existem, além dos remos, uma rolha e uma caneca.

O que seria lógico fazer? Tratar de tapar o furo com a rolha. Feito isso, usar a caneca para retirar a água e, só então, começar a remar. Uma remada na esquerda, uma remada na direita, para não andar em círculos, levando nosso bote ao porto seguro.

Traduzindo isso em ações, é o modo como a ONG Brasil Sem Grades propõe enfrentarmos o grave problema da criminalidade. Decifremos o significado de cada símbolo. Colocar a rolha é implantar o planejamento familiar de forma efetiva. Em 1970, quando ganhamos o “tri” do futebol, havia uma música que chancelava aquele feito “noventa milhões em ação...”. Sobre os ombros daquele país de terceiro mundo, com graves problemas sociais, que levara 470 anos para gerar aquela enorme população, colocamos em quarenta anos (menos de 10% do tempo) mais cem milhões de indivíduos - mais do dobro. Com o Planejamento Familiar, teremos tempo de respirar, como se a canoa parasse de fazer água!

Além do problema da quantidade, agravou-se a qualidade. A máxima vigente diz “O filho é meu, mas o problema é teu!”. Numa pesquisa de Brasília, em 180.000 certidões de nascimento, encontrou-se 30% de registros sem o nome do pai. Paternidade irresponsável na nossa cara. Antes de começarmos a remar, temos de retirar esse excesso d´água. Quem pôs o filho no mundo que o sustente e o eduque. Ficamos discutindo como aumentar o número de presídios e a qualidade dos programas de atendimento juvenis, enquanto deixamos pais irresponsáveis bebendo cachaça e cerveja nos botecos, sem serem incomodados ou responsabilizados. Mães e filhos abandonados à própria sorte.

Em outra canequinha, coloquemos a gestação de novas vidas por indivíduos drogados. Há várias pesquisas que mostram que o simples ato de a mãe fumar, durante a gravidez, já é um grave fator de risco para levar o filho a futuramente ser um consumidor de drogas. Pais que consomem drogas têm de ser tratados como calamidade pública. O uso do DIU ou o implante hormonal por eles deveria ser uma norma. OK, na forma da lei, respeitando a liberdade de cada um. No entanto, o serviço público de saúde deveria estar preparado para tal.

Cansados do esforço feito, poderíamos tirar a camiseta e secar a proa de nossa nave imaginária. Gravidez nas prisões é o impensável. Não falo da mulher presa já com um filho na barriga. Falo da visita íntima sem a exigência dos cuidados mínimos de evitar a gestação. Uma criança assim gerada, por um privilégio bem brasileiro (na maioria dos países do mundo não existe tal visita), cria mais uma pressão nos nossos já carentes serviços sociais públicos. Por que e para quê?

Agora sim, dando uma remada uma remada à esquerda, com mais a educação e a distribuição de renda; depois outra remada à direita, aumentando os efetivos policiais e as vagas nas cadeias, chegaremos ao nosso destino - “Um país seguro!”.